Foi ontem que a chef de cozinha natural Bela Gil fez um workshop
em Campinas promovido pelo Ciclo Novo e eu estava lá, atenta pra depois
compartilhar aqui com vocês tudo aquilo que ouvi e consegui registrar.
Bela chegou super à vontade diante de uma platéia lotada e fez
com que cada um se sentisse batendo um papo com ela em sua sala de estar. Parecia que dali a pouco ia convidar a gente
pra entrar na cozinha e provar seus quitutes saudáveis, mas foi só isso que
ficou faltando.
Uma pena que a Bela não cozinhou, mas falou de coisas muito
interessantes que não chegaram a ser grandes novidades para quem é assídua no
seu programa Bela Cozinha do GNT e leitora do seu blog como eu sou, porém estar
ali frente a frente com ela, ouvindo suas opiniões sobre como fazer 'A Revolução
de Garfo e Faca' usando a alimentação como ferramenta social, foi super bacana.
Ela começou a conversa fazendo uma pergunta pra gente: O que é
alimentação saudável? Muitos responderam: Comer verdura, legumes e frutas, não
exagerar em gordura, açúcar e sal, etc. Só que alimentação saudável não
para por aí, a verdade é que o alimento não pode fazer bem somente para o
corpo, mas também para a sociedade, para
o meio ambiente e para o produtor.
Adepta do Slow Food, movimento que surgiu na Itália em 1886,
fundado por Carlo Petrini, toda a sua palestra explorou os princípios deste movimento que fala do direito
ao prazer da alimentação, utilizando produtos artesanais de qualidade especial,
produzidos de forma que respeite tanto o meio ambiente quanto as pessoas
responsáveis pela produção.
Para o Slow Food, a forma como nos alimentamos tem profunda
influência no que nos rodeia - na paisagem, na biodiversidade da terra e nas
suas tradições. Melhorar a qualidade da nossa alimentação e arranjar tempo para
a saborear, é uma forma simples de tornar o nosso cotidiano mais prazeroso. O Slow Food opõe-se à tendência de
padronização e industrialização maciça dos alimento no mundo e defende a
necessidade de que os consumidores estejam bem informados sobre aquilo que
consomem desde a origem até a preparação do alimento.
Bela enfatizou que comida tem que ser Boa, Limpa e Justa. Sendo
este o manifesto do Slow Food para a qualidade do alimento:
1) Bom: Deve fazer bem e o sabor e aroma do alimento,
reconhecido por sentidos educados e bem treinados, é fruto da competência do
produtor e da escolha de matérias primas e métodos de produção, que não devem
de maneira nenhuma alterar sua naturalidade.
2) Limpo: O ambiente tem que ser respeitado e práticas
sustentáveis de agricultura, manejo animal, processamento, mercado e consumo
devem ser levados em consideração. Cada estágio da cadeia de produção
agro-industrial, incluindo o consumo, deve proteger os ecossistemas e a
biodiversidade, salvaguardando a saúde do consumidor e do produtor.
3) Justo: A justiça social deve ser buscada através da criação
de condições de trabalho respeitosas ao homem e seus direitos e deve ser capaz
de gerar remuneração adequada; através da busca de economias globais
equilibradas; pela prática da simpatia e solidariedade; pelo respeito às
diversidades culturais e tradições.
Outro ponto bastante explorado foram os problemas oriundos do consumo
exagerado de carnes em geral tanto para o organismo, em função não somente dos
problemas gerados pela gordura e pelos hormônios e aditivos, como também para o
meio ambiente. Falou do consumo do salmão de cativeiro, cheio de antibióticos e
corantes que nos esbaldamos nos sashimis e temakis acreditando ser comida saudável.
Eu particularmente, vivo há anos um dilema interno com relação a comer carnes. Em 2010, após ler o
livro "Comer Animais" de Jonathan Safran Foer, tornei-me vegetariana e
fiquei assim por 2 anos. Voltei a comer carne porque sentia dificuldade em
substituir a proteína animal pela vegetal e minha dieta ficou muito
desbalanceada para mim que pratico atividades físicas intensas.
Mas o que li foi muito marcante e sempre que lembro do apanhado
de dados que Safran Foer traz em seu livro, arrepio: a indústria de carne ocupa
cerca de 1/3 das terras do planeta, o setor pecuarista é responsável,
globalmente, por 18% das emissões de gás estufa e um só método de pesca, o
feito com espinhéis, mata 4,5 milhões de animais anualmente, incluindo 3,3
milhões de tubarões, 60 mil tartarugas marinhas e 20 mil golfinhos e baleias.
Além disso, a criação animal usa, a cada ano, 756 milhões de toneladas de grãos
e cereais para alimentar aves, porcos e gado bovino, bem mais do que o
necessário para alimentar o 1,4 bilhão de seres humanos que vivem em extrema
pobreza, cenário que tende a se agravar com o avanço do consumo dos variados tipos
de carne em países emergentes como a China e a Índia.
Bela não pediu que parássemos de comer carne, já que nem ela é
mais vegetariana, mas que ponderássemos a quantidade consumida e nossas
escolhas sobre a origem da carne. Devemos sim, lutar por mudanças que permitam
aos animais serem tratados com compaixão e dignidade, de forma que a criação e
o abate sejam feitos de maneira que provoque o mínimo de sofrimento possível a
aves, porcos, bois e peixes.
Outros pontos bastante explorados foram a importância dos
alimentos orgânicos para a saúde, diversificação da alimentação e o exagero do
consumo de alimentos industrializados. Bela fez comparações que chamaram a
nossa atenção, não compramos um perfume em um camelô porque temos receio de
passar o produto e ter alguma alergia, de ele ser de má qualidade, mas
compramos um tomate cheio de veneno no hortifruti e damos para nossos filhos
comerem. Ou ainda, levantamos a bandeira de que na nossa casa nada se frita,
mas na hora da fome passamos no posto a caminho de casa e compramos um saquinho
de batata frita. Falou de crianças que vivem no interior na Amazônia, de
população quase 100% de origem indígena que debaixo de frondosos pés de frutas
maduras, se lambuzam com picolés cor rosa choque reluzente e salgadinhos Fofura.
Foi um bate-papo agradável que mostrou que podemos viver bem com
relação a alimentação se comermos menos carne, diversificarmos nossa
alimentação, consumirmos menos industrializados e processados, priorizarmos os
produtos locais, da terra, crus e livres de agrotóxicos e ainda, se
valorizarmos o ato de manusear, cozinhar e preparar o alimento com prazer.
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